Palacete São Cornélio, na Glória, é colocado à venda
em Diário do Rio, 8/março
Erguido em 1862, o edifício já foi o lar de famílias nobres da cidade do Rio de Janeiro durante o século XIX e pertence à Santa Casa da Misericórdia.
Localizado na Rua do Catete, número 6, o Palacete São Cornélio é mais do que uma simples construção. Erguido em 1862, o edifício já foi o lar de famílias nobres da cidade do Rio de Janeiro durante o século XIX, incluindo a ilustre família de Cornélio Santos. No entanto, ao longo dos anos, o bonito palacete testemunhou um declínio preocupante, passando de uma joia arquitetônica para um símbolo de abandono e decadência, após sua utilização por anos como Faculdade de Medicina.
O esplendor neoclássico do Palacete, com seu porão alto e fachada voltada para a rua, agora é “escondido” pela presença constante de camelôs e vendedores ambulantes, que transformaram suas paredes em improvisados cabides para a venda de produtos. Com paredes úmidas, vidros quebrados, janelas danificadas e cobertas de pichações, o palacete é um triste reflexo de seu antigo esplendor. O imóvel foi ocupado por décadas pela faculdade de Medicina Souza Marques, que quando saiu entregou-o em mau estado de conservação, e a proprietária do conjunto não tem recursos para realizar as obras necessárias.
Embora tenha sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1938, o Palacete São Cornélio tem sido abandonado ao longo das décadas, principalmente após a sua devolução pela ex-inquilina. Apesar dos esforços da comunidade local, incluindo petições e manifestações, o destino do palacete permanece incerto. Agora, a Santa Casa da Misericórdia, proprietária do conjunto, decidiu colocá-lo à venda por R$ 30 milhões. O Palácio tem um terreno anexo com lindo jardim, e mais um grande espaço que pode ser usado para construir um edifício. São quase 5.000m2 de terreno, no melhor ponto da Glória, região que floresce novamente com grandes empreendimentos como a ESPM e o Hotel Glória. Segundo informações da Mordomia dos Prédios da Santa Casa, há possibilidade de um eventual comprador restaurar o prédio com recursos de renúncia fiscal, estaduais e federais.
Aqueles que adquirirem o palacete enfrentarão um desafio de restaurar sua grandiosa estrutura, recuperando os ícones da arquitetura brasileira que adornam o interior e o exterior do edifício. Pinturas preciosas no teto, detalhes na fachada e elementos decorativos que sofreram danos ao longo dos anos exigirão cuidados especializados para serem restaurados à sua antiga glória. O próprio Iphan fez um projeto muito criterioso para o restauro do Palacete, e este projeto deverá ser seguido pelo eventual comprador.
Moradores da Glória lamentam a situação atual da construção e têm feito de tudo para preservar o patrimônio histórico, mas até agora sem sucesso. O roubo de duas estátuas de ferro fundido da escadaria principal do palacete evidencia a falta de segurança e proteção do local, apesar de todas as tentativas da Santa Casa de obter recursos para melhorar a situação. A entidade, que completa 442 anos de idade este mês, está reformulando a administração de seu patrimônio imobiliário com a nomeação do empresário Cláudio André de Castro para a função de Mordomo dos Prédios, nome que se dá aos gestores de patrimônio de instituições católicas como a Santa Casa.
Há alguns anos, diretores do Conselho Comunitário da Glória (COM-GLÓRIA) visitaram o palacete e testemunharam em primeira mão o estado de abandono e ruína em que se encontra. “É evidente que o patrimônio tombado nunca recebeu uma inspeção adequada do Iphan para preservar seu acervo artístico”, afirmou um dos diretores, na época.
O Palacete São Cornélio é um símbolo do Rio Antigo, uma testemunha silenciosa da história e da glória desta cidade. Enquanto o palacete ainda enfrenta um futuro incerto, os moradores e amantes da história do Rio de Janeiro continuam sua luta para preservar esse importante marco arquitetônico e cultural, como tantos outros palácios e palacetes espalhados pelo Rio de Janeiro.
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